Resposta curta: se você for brasileiro, cãibra e câimbra estão certos, mas cãibra é melhor. Se você for português, cãibra é o certo.
Resposta longuíssima:
O Vocabulário Ortográfico da Academia Brasileira de Letras aceita cãibra e câimbra, assim como o Houaiss e o Aurélio. Por outro lado, todos os dicionários de Portugal que consultei só aceitam cãibra, inclusive o Vocabulário Ortográfico do ILTEC (adotado como referência para o Acordo Ortográfico de 1990).
Na verdade, a coexistência dessas duas formas é algo muito estranho. Explico por quê.
Em seu livro Ortografia Nacional (1904), Gonçalves Viana sugeria as grafias cãibra, cãibo e zãibo. Isso é importante porque as sugestões dele foram base para a ortografia oficial adotada em 1911. No entanto, o texto que implantou essa ortografia não fez menção explícita a cãibra e às outras palavras nessa situação, o que justifica que o Vocabulário Ortográfico oficial publicado em seguida para referência apresentasse cãibra e câimbra como variantes aceitáveis.
Mais tarde, o Brasil redigiu seu Formulário Ortográfico de 1943, que, ao contrário do texto português, deixava explícito que "os anoxítonos primitivos grafam-se com o ditongo ãi", dando cãibo, zãibo e cãibra como exemplos. Mas, porém, no entanto, o Vocabulário Ortográfico que a ABL lançou (e que servia para tirar dúvidas sobre a escrita de cada vocábulo) vinha com a variante câimbra ao lado de cãibra, mesmo contrariando a regra oficial. Talvez tenham imitado o vocabulário de Portugal, que também tinha os dois.
Cedo depois disso, Portugal assinou com o Brasil o Acordo Ortográfico de 1945. O texto era claríssimo: o ditongo "ãi" era para ser usado em vocábulos anoxítonos e derivados. Cãibas, cãibeiro, cãibra e zãibo eram dados como exemplos. O Vocabulário Ortográfico que se lançou em seguida no Brasil para aplicar o Acordo de 1945 era categórico: só cãibra era aceito. Câimbra não aparecia. Não tive ainda acesso ao vocabulário correspondente em Portugal, mas imagino que tenha sido igual nesse ponto. Minha pesquisa indica que a forma câimbra não é mais encontrada em dicionários portugueses.
Só que o Acordo Ortográfico de 1945 foi revogado no Brasil poucos anos depois. Aí os brasileiros voltaram a se regular pelo Formulário de 1943, e, presume-se, pelo Vocabulário de 1943 (o que também aceitava câimbra). Os dicionários brasileiros desse período até 2009, geralmente falando, parecem citar cãibra e câimbra dando preferência à primeira forma.
O próximo capítulo da história é em 2009, quando entra em vigor o Acordo Ortográfico de 1990. No que diz respeito a cãibra, o texto é idêntico ao de 1945. Como o objetivo aqui era padronizar a escrita das palavras, o lógico era que a forma câimbra fosse então abandonada no Brasil.
Só que não! A ABL lança um novo Vocabulário Ortográfico adaptado à reforma na ortografia e, pasmem!, câimbra continua lá. O dicionário Houaiss também continua aceitando essa variante.
Não faz o menor sentido. Leia abaixo o trecho do Acordo Ortográfico de 1945 que mencionava cãibra. A ABL considerou que esse trecho desautorizava a grafia câimbra.
Os ditongos constituídos por vogal com til e subjuntiva vocálica são quatro, considerando-se apenas a linguagem normal contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo;Leia agora o trecho correspondente do Acordo Ortográfico de 1990. Em negrito estão as únicas palavras que mudam de um texto para o outro.
Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se apenas a língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra, zãibo;Ao aplicar este segundo trecho, a ABL achou que devia deixar a grafia câimbra como variante aceitável. É óbvio que não há nenhuma diferença entre os dois trechos que justifique essa diferença de interpretação. É apenas uma arbitrariedade.
Se formos fiéis ao Acordo Ortográfico, só há uma conclusão: cãibra está certo e câimbra está errado.
Seguindo sempre o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa: cãibra.
ResponderExcluirA leitura das palavras é distinta também: cãi-bra não tem m. Não tem sentido pronunciar cã-im-bra. De acordo com a pronúncia, o mais certo seria a variante câimbra.
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