Aprendendo as regras do hífen como uma criança


REGRA DE OURO DO HÍFEN
É a mesma regra do magnetismo: os iguais se repelem, os diferentes se atraem!

Micro-ondas,
contra-ataque,
anti-inflamatório. Letras iguais não se juntam! Ficam afastadas com hífen. Assim como os ímãs não querem se juntar quanto têm carga de mesmo sinal, por mais que você aperte! 


Autoconfiança, antialérgico, coeducação, extraclasse. As letras se juntam magneticamente! A atração é tão forte que acontece até quando a segunda letra é R ou S e tem que se duplicar para manter o som:
antirrugas, corréu (antes co-réu), autorretrato, minissaia, fotossíntese.


Essa é a Regra de Ouro. Mas tem letras e prefixos que são muito manhosos! 


- Sempre se usa hífen antes de palavra iniciada por H. É que o H não aceita ficar apertado se acotovelando entre as outras letras! "Antihigiênico"? Jamais! Anti-higiênico, super-homem, geo-história. O H quer ser sempre a primeira letra da palavra, mas isso nem sempre é possível. Aí pomos o hífen e ele fica satisfeito, porque tem a ilusão de que é ele quem está puxando a fila! 


- Tem prefixos que sempre andam com hífen, não importa o quê. São prefixos antissociais, que querem distância total das outras letras! Ex e vice são os mais famosos; além deles, temos aquém, recém, sem, soto, soto, vizo. Ex-namorado, vice-presidente, sem-terra, recém-plantado, além-túmuloComo se vê, eles têm hífen mesmo se a letra seguinte for diferente.
Também tem outros três: pré, o pós e o pró. Eles se comportam como antissociais, mas na verdade requerem o hífen porque precisam dele para manter o acento em cima de suas cabeças (afinal, nunca escreveríamos "préadolescente"). Pré-adolescente, pós-operatório, pró-reitor
E eles precisam andar com esses chapeuzinhos porque só assim se diferenciam de seus irmãos mais velhos, pre, pos e pro, que vamos conhecer agora. 


- Tem outros prefixos com o defeito oposto: são pegajosos, grudam em todo mundo! Não querem se desgrudar nem se a letra seguinte for igual. Rejeitam o hífen. Quem são? Tem os irmãos que ficamos de conhecer: pre, pos e pro. Preencher, preestabelecido, posfácio, proativo. Mas os mais famosos são re, co e des.  reeleição, reeducar, reedição, coordenador, cooperar, dessalinizar, dessintonia, desserviço

- Como o H não aceita que uma letra grude nele pela esquerda  em hipótese alguma, era para escrevermos "co-habitação", "re-habilitação", "re-haver" e "des-humano", com hífen. Mas co, re e des são tão grudentos que não aceitam que haja um hífen entre eles e o H, querem grudar. O H então faz chilique: "Se é assim, eu vou embora!" Aí temos coabitação, reabilitação, reaver, desumano, desarmonia. É que o H foi embora. Há uma exceção: ele costuma resistir e impor o hífen em co-herdeiro, mas a Academia Brasileira de Letras quer que escrevamos coerdeiro para eliminar essa exceção da regra.

O H também é espantado por outro prefixo grudento, o in. Por isso, escrevemos inábil e inumano, e não "in-hábil" nem "in-humano". O in é na verdade um grudento frustrado: ele gostaria de se grudar em palavras que começam com N, contrariando a Regra de Ouro, mas o N dessas palavras segue o exemplo do H e foge, porque em português não se pode escrever "NN" jamais e isso é inegociável (não "innegociável").


-  Por fim, temos prefixos que têm de levar hífen para não mudar a pronúncia da palavra. Digamos que eles mantêm distância por questão de segurança, assim como um carro mantém distância de uma bicicleta. O sub fica afastado das palavras que começam com R porque, ao menor toque, aconteceria um acidente de trânsito e o R mudaria sua sonoridade. Sem o hífen a manter a distância de segurança, sub-reptício viraria \su-breptício\!  Nesse caso, não seria possível escrever *subrreptício, porque RR só pode existir entre vogais.

Infelizmente, o sub não tem a mesma cautela nem com as vogais, nem com o L, que é mais resistente que o R e não muda de som. Então temos subleito e subliteratura, e não "sub-leito" e "sub-literatura". Andando tão colados, é bem possível que aconteça um acidente no futuro! O choque já aconteceu com sublinha e subliminar: o B se descolou e agora anda com a palavra da frente. As pessoas pronunciam \su-blinha\ e \su-bliminar\! Mas, na hora de dividir as sílabas na translineação, o correto é silabar "sub-li-nha" e "sub-li-mi-nar". Quase ninguém sabe disso!

Um prefixo quase tão perigoso quanto o outro é mal. Ele segue a regra do magnetismo, e por isso temos malfeito, malcriado. Mas, quando a letra da frente é vogal, há hífen: mal-educado, mal-acostumado. É que, se fosse escrito "maleducado", leria-se \ma-leducado\, e não \mau-educado\. 

Bem também sempre anda com hífen, para que o M não encoste nem em vogal, nem em consoante: bem-comportado, bem-apessoado. Circum e pan seguem o mesmo procedimento: pan-americano, circum-navegar. É só em espanhol que se usa panamericano, porque o N deles é diferente do nosso.

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